
Lembro-me tão bem... quando moravamos na Suiça, o meu pai ralhava sempre por eu e a minha irmã falarmos francês em casa. Na altura, não percebia muito bem porquê. Era nova e para mim, se todos falavam francês na rua e na escola, eu também falava e alias pensava em francês. Depois comecei a perceber a ideia do meu pai. Tanto lutou para que não esquecessemos a nossa lingua, que pelo menos quando vinhamos cá de férias, conseguiamos comunicar com os nossos familiares. Mas uma coisa é comunicar, outra é falar correctamente. Quando vim viver para Portugal, apercebi-me que a construção das minhas frases não soava bem, porque ainda pensava em francês e traduzia para português à letra. Chegaram a gozar comigo quando uma vez por exemplo disse: "Não vamos panicar", do verbo "paniquer". Ou então uma expressão que me corrigiram muitas vezes "Fazer um sonho" de "Faire un rêve". São pequenas erros, que não impedem a comunicação, mas também não é falar correctamente. Felizmente não fico ofendida quando me corrigem, pelo contrário, gosto de aprender. E apercebo-me que algumas pessoas que sempre viveram cá ainda conseguem ser piores do que eu. Sei que não sou perfeita, ainda hoje me engano, mas esforço-me.
Hoje quis escrever uma carta a uma amiga minha que está na Suiça... qual não foi o meu espanto quando ia começar a escrever e não consegui porque só me vinham as palavras em português. Durante 15 anos da minha vida, pensei em francês, e agora, apesar de continuar a ver a M6, parece que me vou esquecendo da lingua. Consigo comunicar, mas já não é o que era...
Enfim, acho que a solução é começar a falar francês em casa (sim, croissant e omelette au fromage...) e português na rua e no trabalho...